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sábado, 28 de abril de 2007

FILÃO DO COSTADO DA NAU

As rochas fundidas em profundidade (magma) encontram-se sobre elevada pressão, pelo que, devido à sua fluidez, penetram forçosamente em todas as fissuras à sua volta, estas podem ser fracturas das rochas ou falhas geológicas e ter direcções e inclinações variadas.
Quando o magma contido nestas fissuras arrefece e solidifica, transforma-se numa camada de rocha, frequentemente distinta da envolvente, a que se chama filão. Estes podem ter pequenas dimensões ou atingir centenas ou milhares de metros, bem como ser de espessura microscópica ou métrica.
Nas regiões vulcânicas os filões são frequentes, mas no Faial não abundam. Todavia, quem vai ao vulcão dos Capelinhos encontra um dos melhores exemplos de filões dos Açores, situado na arriba (a linha de costa abrupta que normalmente circunda as ilhas) do Costado da Nau.
Aqui, um pouco a sul do Farol, um filão de basalto vertical, corta as camadas de cinzas vulcânicas consolidadas (vulgarmente conhecidas por tufo vulcânico) resultante de uma erupção antiga. O filão, por ser mais resistente à erosão do vento e chuva do que o tufo, ficou saliente como um parede de pedra. Infelizmente, a ânsia de ver o vulcão apaga a observação desta interessante estrutura geológica.
Ficam aqui algumas fotos do filão para os visitantes do local não se esquecerem de dar uma vista de olhos a este.
O filão, mesmo à direita do trilho de acesso ao cone do vulcão dos Capelinhos


Dois afloramentos do filão (circundados a vermelho), cujo tempo separou o que já antes foi unido

Pormenor do filão e marcas nas paredes deste feitas quando da sua instalação

As bolhas de ar estiradas verticamente devido à pressão do tufo quando da instalação do filão

quinta-feira, 26 de abril de 2007

CASTELO DA PONTA NEGRA

Voltando à freguesia dos Cedros e à rua das Areias, a mesma das Pias Colectivas, a cerca de 100 m para Oeste daquelas, existe um conjunto de dois edíficios de pedra basática, "bem aparelhada" como cá se diz e que se encontram em ruínas mas, antes que desapareçam, merecem uma visita.
No inventário do património do Concelho da Horta, o edifício maior tem a designação de "Castelo da Ponta Negra", mas se perguntarmos a alguém porquê, pelo menos ninguém me soube dizer... se questionarem sobre os proprietários... apenas dizem que são pessoas de fora, que desconhecem o nome e que estão para a América... sem dúvida que estão reunidas todas as condições para mais um conjunto arquitectónico de beleza impar e em risco de desaparecer em breve...
Ficam aqui umas fotos para memória futura e quiçá de alerta...
O Conjunto dos dois edifícios... que apesar de próximos são de proprietários diferentes
Alçado Norte do conjunto

Pormenor da Cornija do Castelo

Alçado do edifício menor exposta a Este

terça-feira, 24 de abril de 2007

MESTRADO EM VULCANOLOGIA - 4 ANOS

Hoje comemoro o quarto aniversário da conclusão do meu mestrado, com a defesa de uma tese entitulada "Estudo das Anomalias Geoquímicas Associadas a Processos de Desgaseificação Difusa na Ilha do Faial: Contribuição para a Cartografia de Falhas Activas", apesar deste extenso nome e a título de recordação, vejam como as ciências da Terra animaram o fim daquele dia este grupo de geólogos, colegas de trabalho e amigos....
O Juri sempre pronto para mais uma lição de sapiência

Após uma tese sobre fluídos vulcânicos, nada melhor que brindar com o nectar de Baco

A exaustão dos que se esforçaram no apoio ao candidato a mestre

Mas a vitória final é para não esquecer e comemorar

Cantanto, rindo e dançando

Depois disto, ninguém duvida que a geologia é uma ciência que nos anima a alma e o corpo....

segunda-feira, 23 de abril de 2007

SÃO JORGE - freguesia das Manadas

Quem me conhece sabe das minhas ligações à ilha de S. Jorge, que muitos dizem ter este nome por ter sido descoberta a 23 de Abril, dia de S. Jorge e feriado municipal das Velas.
Não só as relações familiares, a existência de amigos, a proximidade geográfica e uma habitação me fazem adorar esta ilha, como também sei que a sua beleza paisagística (devido a uma morfologia muito acidentada), florestas naturais inacessíveis intercaladas com zonas humanizadas, estruturas geológicas interessantes, nomeadamente: as fajãs, os alinhamentos de crateras e as cicatrizes de falhas com movimentos recentes; bem como a presença de óptimas zonas calmas de banhos e ainda os cenários resultantes da presença, na vizinhança, das ilhas do Faial, Pico, Graciosa e Terceira, fazem desta terra açoriana um paraíso para muitos dos seus visitantes.
Neste dia de S. Jorge, deixo como homenagem três fotos tiradas da freguesia das Manadas, de onde nasceram os meus laços àquela ilha.
Vista da Fajã das Almas em primeiro plano, ao fundo, a Fajã Grande, já no concelho da Calheta

Vista do Porto das Manadas para a localidade com o mesmo nome
(a Igreja, parcialmente encoberta sobre os rochedos, é Monumento Nacional devido à sua talha)

O canal de S. Jorge, com as ilhas do Pico e do Faial, vistos do meu balcão ao entardecer

domingo, 22 de abril de 2007

DIA INTERNACIONAL DO PLANETA TERRA

No dia 22 de Abril celebra-se o Dia Internacional do Planeta Terra, uma data importante para todos os que se sentem ligados às Geociências.



A partir desta comemoração, entramos em contagem decrescente para o Ano Internacional do Planeta Terra, a ocorrer em 2008 e cujo logótipo da organização acima se apresenta. Os eventos, integrados nestas celebrações, desenrolar-se-ão ao longo do triénio 2007 - 2009.

Espero que a ocorrência e a sua imagem se tornem suficiente conhecidas, pois será um sinal do sucesso para a organização patrocinada pela ONU e que a humanidade, com maior influência no futuro desta Terra, se consciencialize adequadamente, de modo a deixarmos um Planeta viável e agradável às gerações vindouras.

Para mais pormenores sobre o Ano Internacional do Planeta Terra, o seu logótipo e as comemorações, consultar: http://www.yearofplanetearth.org

quarta-feira, 18 de abril de 2007

A COR DA BAGACINA


Uma das perguntas frequentes que me fazem sobre geologia é o porquê da bagacina, ora ser vermelha acastanhada, ora ser negra.
A bagacina tem uma composição semelhante ao basalto, logo é rica em ferro e outros metais, pelo que, dentro de um mesmo cone vulcânico, as duas variedades são quimicamente semelhantes, mas uma zonas estão mais oxidadas (vermelhas) e a outra não (pretas).
Assim, embora o ferro puro seja escuro, quando oxida e se transforma em ferrugem fica castanho, um efeito semelhante ocorre nas bagacinas, embora também possam existir outros motivos entre cones de erupções diferentes ou que se cresceram em períodos diversos e que podem reflectir-se em alterações de coloração.
Acima podem ver como as duas cores coexistem dentro de um mesmo cone de escórias (escória vulcânica é um termo mais abrangente para os materiais a que nós Açorianos chamamos por bagacina, também conhecidas pela versão italiana de Lapilli).

segunda-feira, 16 de abril de 2007

PIAS COLECTIVAS

Depois da semana cultural da Ribeirinha, uma saída fora da freguesia para chamar à atenção de estruturas patrimoniais que recordam a vida rural no passado.

Chegado à Praça do Cedros, no sentido da Horta -> Ribeira Funda, se prosseguir a viagem, não pela Estrada Regional, mas sim pela municipal que se encontra à direita e com uma descida inicial íngreme, entra na rua das Areias...
Após um quilómetro de viagem, vai encontrar, à esquerda, no cruzamento da caminho com a ribeira do Valverde, o seguinte imóvel, relativamente bem conservado, embora com sinais de algum descuido recente, que mostra como no passado dos Cedros muitas mulheres usaram espaços colectivos para a lavagem da roupa.
Note-se também, tal como na Ribeirinha e nos Flamengos, este tipo de estruturas localizava-se, frequentemente, nas margens de uma ribeira.


Vista geral das pias colectivas de lavagem de roupa



Pia colectiva com as zonas e separação dos lavadouros a branco

Pormenor de um lavadouro e da saboneteira
(não para sabonete, sim para sabão azul ou semelhante)

Pormenor do fontanário contíguo

A rua tem saída novamente na estrada regionaldo ao chegar ao Cascalho, mas como entrada é algo difícil de explicar e perigosa, por se situar numa curva de má visibilidade.

sábado, 14 de abril de 2007

Semana Cultural Ribeirinha - Teatro

O teatro, mesmo o de cariz popular, é sempre uma manifestação artística, cujo talento dos actores dá vida a personagens que nos cativam...
No meio rural, o teatro sempre teve um papel importante, não só por permitir desenvolver a arte de representar, mas também pelo efeito social que tinha.... servia de meio de encontro e de convívio de jovens ( situados num meio relativamente fechado), como permitia desenvolver a crítica social e ainda o encontro de gerações.
As vária peças representadas na Ribeirinha, todas elas originais e com sátira local, foram um momento de divulgação de talentos na arte de representação, bem como da capacide de escrita.
Ficam abaixo imagens de alguns momentos vividos na Sede da Sociedade Filarmónica, obtidas com a dificuldade e sem nenhum apoio técnico especial a partir do público.

"Desabafos de uma mãe"

Um quase monólogo interpretado com um expressividade cativante e de grande nível.


"O marido engatatão"
Uma peça perigosa nos tempos que correm, mas com uma brasileira divertida que apagou a malícia dos eventuais preconceitos contra alguns imigrantes.



"O pecado de Marcolina"



Vários pecados frequentes de uma aldeia pequena... mas cometidos em todas as cidades


"A velhas"

Mexericos antigos, mas representados por novo grupo de actrizes

quinta-feira, 12 de abril de 2007

CANSAÇO

Hoje estava decidido a colocar um novo post... mas uma viagem de mais de oito horas entre Lisboa e Horta, com umas tentativas falhadas de aterragens e outras algo agitadas, deixaram-me demasiado cansado para seleccionar fotografias e fazer um texto.... prometo voltar muito em breve... amanhã ou já no fim de semana... até porque está a decorrer a Semana Desportiva e Cultural na Ribeirinha... e quiçá não surjam novas fotos dos eventos...

terça-feira, 10 de abril de 2007

VALORES EM EXTINÇÃO

Nesta ilha, épocas houve em que a falta de dinheiro não impedia a construção, preservação e recuperação de imóveis dos espaços públicos e o nosso património estava bem conservado. Estas tarefas eram então desempenhadas em regime de voluntariado e por iniciativa das próprias pessoas que residiam nas nossas comunidades... Depois as iniciativas colectivas foram sendo abafadas pelo comodismo e este alimentado por dinheiro público das entidades. Estas últimas, muitas vezes para assegurar a manutenção dos cargos dos seus titulares de uma forma relativamente fácil, passaram a assumir as tarefas que o espírito de colectividade e de cooperação antes existente desenvolvia. Criando regimes de pagamento desnecessários para os serviços ao bem-comum e à colectividade.
O regime de voluntariado para as causas entrou em crise e está em extinção, mas importa mostrar exemplos em que ainda perduram, para ver se volta a reproduzir-se e a instalar-se na nossas colectividades de forma a que o marasmo em que muitos hoje vegetam termine e os frutos do dinamismo social regressem.
A fase final de reabilitação do Império Central da Ribeirinha foi disso um exemplo.
Os irmãos, graciosamente, deitam mãos à obra de reabilitação do Império.

O exterior estava igualmente num estado lastimoso


Mas o voluntariado arregaçou as mangas e pegou nos pincéis.


A fachada ficou como nova

e a festa do Espírito Santo regressou ao seu Império

domingo, 8 de abril de 2007

XENÓLITOS e FAIALITE

Quando o magma se movimenta no interior da terra, debaixo de um vulcão, pode arrancar fragmentos das rochas que formam as paredes do lugar onde ele está contido.
Muitas vezes esses fragmentos não são "digeridos" pelo magma antes deste ser expelido durante a erupção, ficando assim preservados no interior da lava, que ao solidificar, torna a situação pemanente, tal como se fossem fósseis das rochas do interior da terra e servem de estudo de como são as rochas em profundidade.
Estas ocorrências também são conhecidas no Faial.



Aos fragmentos dessas rochas arrancadas em profundidade e preservadas noutras rochas chamam-se XENÓLITOS (xeno - estranho, lito - rocha) e podem ter dimensões variadas.





Numa das escoadas da erupção de 1672 no Faial, o basalto encerra em si amostras de uma rocha profunda chamada Peridotito, a qual é muito rica num mineral chamado Olivina (no Faial, a Olivina parece-se, frequentemente, como fragmentos de vidro de verde a castanho no interior do basalto).


Curiosamente, a olivina é uma mistura de dois minerais, cujas composições puras se chamam respectivamente: Forsterite (Mg2SO4) e FAIALITE (Fe2SO4), este último nome, por o mineral ter sido encontrado pela primeira vez na natureza na ilha Faial.

A moeda de 1 € colocada nas fotografias serve de escala.

sábado, 7 de abril de 2007

VOTOS DE BOA PÁSCOA

Junto abaixo alguns dos meus postais de Páscoa, onde o roxo, ou lilás está a ser substituído pelo amarelo...


Sendo cristão não posso deixar de desejar a todos os visitantes: Votos de Boa Páscoa, sejam crentes ou não crentes.


Afinal a Páscoa não é mais que uma Festa da Libertação do Homem pelo Amor, uma passagem do cativeiro à Liberdade, uma luta sem limites por um ideal: a Liberdade, a Justiça e o Amor pela Humanidade e nisto todos se revêem (bem..., olhando o mundo à volta, talvez não sejam todos) mas haverá sempre que lute por aquilo que acredite.


Cada vez gosto mais de ranúnculos... são belos como a Páscoa... a minha festividade predilecta, junto com a do Pentescostes... mas para esta última, ainda faltam 50 dias.

sexta-feira, 6 de abril de 2007

NOVO REORDENAMENTO E PANORÂMICA

Lembram-se do tempo em que a Ribeirinha era conhecida como uma povoação de de rua única?...

Apesar da causa principal ter sido o sismo de 1998, que tudo destruiu por estes lados, o reordenamento efectuado nesta freguesia, para evitar a zonas de risco geológico conhecido e evidente, introduziu nesta localidade uma malha urbana e uma zona central... afinal ainda hoje existem Marquêses de Pombal... não têm é muito poder...

terça-feira, 3 de abril de 2007

CULTURA na HORTA

Hoje o grupo de Lisboa "A Barraca" com a peça " A herança Maldita" e a interpretação da sempre magnífica de Maria do Céu Guerra, pelas 21:30 no Teatro Faialense.

Sexta-Feira, pelas 21 hora na Igreja Matriz da Horta, concerto da Páscoa.... com um programa efectivamente de Sexta-Feira Santa:
- Sinfonia al Santo Sepulcro de Vivaldi e,
um dos mais bonitos poemas e hino de sempre à mãe de Cristo, o eternamente belo Stabat Mater de Pegolesi.

Uma semana, que além de Santa, é cheia de Cultura... dois eventos a não perder.

Desde já os meus parabéns ao meu amigo Kurt Spanier e votos de sucesso, sem dúvida um dos agentes culturais mais importantes no Faial, nos Açores e um artista de renome internacional.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

O BERÇO ABANDONADO

Após a demonstração de um exemplo de recuperação -os fornos de telha da Ribeirinha - eis nas fotos abaixo um caso que necessita de reflexão sobre o modo de intervir e de recuperar a memória.

Este post não é uma crítica, após o sismo houve muitas prioridades, mas a partir de agora, há que reflectir nas nossas origens. O provérbio diz: "Roma e Pavia não se fizeram num dia", e eu acrescento, mas com o tempo fizeram-se completamente.

É lógico que nem tudo pode ainda estar feito... mas não deve ficar esquecido, antes pelo contrário, deve-se pensar como agir para resolver futuramente.

Como se sabe, todas as povoações instalaram-se onde havia água. Depois desenvolveram-se aquelas cujo solo e clima permitia boas colheitas, ou onde havia um produto de valor comercial importante (pesca, caça, minérios, etc.) ou ainda, onde a posição geoestratégica permitia o desenvolvimento do comércio ou o apoio a rotas comerciais (o porto da Horta é um exemplo destes).
A Ribeirinha, tal como os Flamengos, fazem parte do primeiro grupo, havia uma nascente numa ribeira (respectivamente a do Valado e a das Bicas), bons terrenos agrícolas circundantes e correspondiam a um local seguro face aos corsários...

Imune ao sismo e ao abandono a nascente do Valado ainda hoje corre (provavelmente contaminada e imprópria para consumo), mas já não se vê o tanque que armazenava água, nem o local onde as lavadeiras lavavam roupa, nem o poço onde os agricultores recolhiam água para os animais...

Independentemente do reordenamento da Ribeirinha o berço desta localidade está neste momento abandonado, arruinado e coberto por uma trepadeira exótica.

A fonte do Valado junto à ribeira, no extremo direito da fotografia acima está a nascente



O estrutura à direita e coberta de trepadeira é a antiga cisterna


Local actual de exsurgência de água junto da ribeira



A água ainda procura mais vias para nascer e continua a brotar pelas paredes


A zona actual da de saída de água da nascente

Pormenor de como a água ainda brota junto à sua saída actual.


Apesar de tudo... agora que a reconstrução das habitações praticamente está concluída, chegou a hora de olhar para a memória.... os fornos já se recuperaram... falta o berço da freguesia: a Fonte do Valado.