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quarta-feira, 20 de maio de 2009

DESGASEIFICAÇÃO VULCÂNICA: Estudar o invisível

Por norma não costumo falar da actividade profissional mais próxima ou dos trabalhos que fiz em vulcanologia. Mas uma colega desafiou-me a abordar no Geocrusoe a área onde mais cooperamos: a Monitorização Geoquímica de Gases Vulcânicos.
Nesta área, quase que se trabalha com o invisível, pois à excepção das fumarolas, geisers e plumas das erupções. A maior parte destes estudos consistem em quantificar os gases que não vemos, mas que se libertam permanentemente do solo das áreas vulcânicas activas, e detectar as variações das proporções das várias substâncias envolvidas neste processo.

Fumarola junto a um caminho perto da Ribeira Grande, uma forma de manifestação visível da libertação de gases vulcânicos dominada por vapor de água.


Apesar destas substâncias muitas vezes passarem despercebidas, o seu estudo permite muitas vezes compreender o estado de repouso ou de actividade de um vulcão aparentemente adormecido e, mesmo em condições de dormência, podem gerar situações muito perigosas para os seres vivos.
Paralelamente, os gases vulcânicos têm um papel fundamental no dinamismo das erupções, pois funcionam como combustível para alimentar as explosões vulcânicas, mas isso há-de surgir aqui faseado e intercalado no tempo....

12 comentários:

RJ disse...

Manifesto aqui a minha curiosidade científica e técnica (pois sou só "meio" geólogo e estou permanentemente a aprender).

Primeiro que tudo gostaria de saber que tipo de sensores usam na monitorização, o princípio técnico que esses sensores usam e o tipo de gases a monitorizar (imagino que à base de enxofre).

Claro que se esta matéria for objecto dos próximos posts aguentarei com muita expectativa a minha curiosidade.

Carlos Faria disse...

ao rj
sobre o princípio técnico dos sensores, terei de questionar a minha colega, sei que existem vários, mas por norma sigo as instruções e calibragens indicadas pelo fabricante (não sou profissional da desgaseificação, colaboro com o centro de vulcanologia da UA, trabalho em ambiente, a minha colega sim está a terminar a tese em monitorização geoquímica de gases).
Entre os gases, o H2S e o SO2 nem são os mais importantes para mim, eu trabalho sobretudo com CO2 e por vezes Rn. Mas no futuro vou falar em vários post sobre monitorização, os gases em causa e a minha tese de mestrado (em CO2)... não vão ser seguidos para não cansar alguns visitantes menos ligados à geologia.

Anónimo disse...

Carlos,

adorei a surpresa de entrar no teu blog e ver que tinha chegado o tempo de falar dos gases vulcânicos.

Fátima.

Valter Medeiros disse...

Por acaso ja trabalhei com gases, mas de outra forma. Estagiei na Inglaterra num laboratório de análises forenses, e bastante ligado À monitorização Ambiental e a redes de ditribuíção de gás.
Trabalhei na parte da identificação dos gases que compõe o odorizante que é misturado com o gás natural (o gás natural não tem cheiro, por isso são adicionados outros gases com odor forte para a detecção de fugas).
Geralmente em campo apenas recolhíamos as amostras em cilíndros pressurizados, que depois eram inseridos num cronógrafo computadorizado que analizava os componentes.
Sou mais virado para a Biologia e a "parte sólida" da Geologia, mas achei interessantíssimo o meu trabalho com os gases.

Carlos Faria disse...

à fátima
eu sou cumpridor ;)
como já te disse, irão surgindo ao longo do tempo e em doses pequenas, pois temos de reconhecer que poucos tem consciência da realidade da desgaseificação, que existe gente que trabalha sobretudo nesta área, a qual fornece muita informação sobre o estado do próprio vulcão. Como toda a informação totalmente noval, temos que ir com calma para se ir assimilando a novidade.

ao valter
eu sei que os gás natural é praticamente inodoro e por questões de segurança se usa odoríferos... só não sabia que tinhas trabalhado nessa área. qualquer forma, eu gosto de geoquímica e os gases permitiram-me ver melhor como funciona o sistema vulcânico no seu todo, inclusive conhecer o faial em 3D, e confesso que embora não seja a única área da vulcanologia que gosto, tomei gosto pela geoquímica dos gases vulcânicos....

Carlos Faria disse...

ao rj

conforme prometi cá vai a resposta pois a fátima foi rápida e aqui vai uma síntese:
1 desgaseificação difusa
Nas medições de CO2 e CH4 recorre-se a sensores que medem na gama do infravermelho. nas medições de H2S e CO recorre-se a células electroquímicas. Existem equipamentos portáteis que incorporam os diferentes sensores.
No 222Rn utiliza-se um equipamento que capta partículas alfa através de um detector sólido de silício.

2. Nos casos concentrados, como das fumarolas, as amostras são recolhidas e os gases analisados em laboratório, com a panóplia de métodos que já tu deves conhecer da faculdade.

Por cá, no campo difuso, trabalha-se sobretudo com os dois gases que mencionei o CO2 e 222Rn, embora se possam detectar os outros.

RJ disse...

Obrigado pela resposta,

É mais ou menos o mesmo tipo de sensores que usamos nos poços, nomeadamente para o "killer gas" H2S.

Infelizmente na faculdade não abordei a monitorização de zonas vulcânicas (no que respeita a gases e radiação) com excepção para a sismologia...

Carlos Faria disse...

Pois nos furos geotérmicos também se usam os sensores H2S... provavelmente pelos mesmos motivos.

Grifo disse...

Fiquei curiosos... gostaria de ver um post mais elaborado (funcionamento etc)... não sei se o pensa escrever ou se já escreveu sobre isso...

Carlos Faria disse...

não deverão ser muito elaborados. a não ser que eu encontre algo na net interessante... mas haverá alguns esquemas, um video pelo menos, fotos e textos curtos com o essencial. no fim, tudo somado, se calhar terás uma boa dose de informação para olhares um vulcão e veres o invisível também ;) qualquer forma não serão seguidos, para não cansar outros menos interessados no tema.

Pedrita disse...

eu tb falo pouco da minha vida profissional no meu blog. beijos, pedrita

Carlos Faria disse...

já tinha dado por isso...