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quarta-feira, 22 de abril de 2015

"A cor do hibisco" de Chimamanda Ngozi Adichie

Esta foi a minha primeira entrada num mundo de produção literária africana subsaariana não lusófona e confesso que fiquei agradavelmente surpreendido.
"A cor do hibisco" de Chimamanda Ngozi Adichie é o relato da experiência da protagonista da passagem de adolescente à juventude/vida adulta, cujo pai, industrial e rico, é fanaticamente católico, numa comunidade nigeriana em colapso económico, político e social, onde coexiste a pobreza extrema, o racionamento de bens e ainda nas famílias alargadas persistem pessoas de religiões tradicionais e outras que equilibram as visões cristãs com as tradições pagãs que aparam os choques destes encontros com um humanismo que o extremismo bloqueia.
A escritora toca os sentimentos e confusões típicos da adolescência, enquanto sem se inibir, questiona algumas regras católicas sem as julgar, põe a nu, de forma dura, os excessos fanáticos e choques culturais religiosos e ainda denuncia a corrupção política que coloca o povo nigeriano na miséria num Estado onde alguns usam o dinheiro público em proveito, próprio recorrendo mesmo à violência para alcançar os seus fins, enquanto outros, cheios de valores e bom-senso, se tornam vítimas e se veem forçados a emigrar.
O romance está muito bem escrito, numa narrativa sem preocupações de criatividade modernista que perturbem a leitura, embora tenha muito léxico e frases comuns da língua ibo, mas de tal forma integrados que o leitor não se perde e quando necessário existe a adequada tradução englobada no texto de uma forma natural. Gostei muito do romance e espero ter oportunidade de ler outras obras desta escritora de grande sensibilidade e potencial literário elevado.

5 comentários:

Pedrita disse...

nossa, não conhecia, estou lendo uma obra da sul-africana nadine gordimer que ganhou prêmio nobel e gostando muito. vou anotar esse. eu tinha gostado muito do nome. hibisco é uma flor que convive na família. a peste é o meu livro preferido de camus, mas muito indigesto. beijos, pedrita

Carlos Faria disse...

Não sei se o título no Brasil será igual ao de Portugal, ela tem pelo menos mais 2 livros que parecem ser igualmente bons, um está referido na capa e outro penso por cá se chamar Americannah.

Blog Livre Lendo disse...

Esse livro é mesmo fantástico! A escrita da Chimamanda é deliciosa! Descobri em minhas pesquisas que ela fez um mestrado em escrita criativa, tá ai um estudo que de fato deu frutos! *___*
Bjs

Kelly Oliveira Barbosa disse...

Esse livro é bem popular aqui no Brasil. Não sou adepta ao movimento feminista, por isso, guardo uma reserva (antecipada) da autora por saber que é defensora do movimento. Porém eu procuro ler de tudo, der repente eu gosto...

Obrigada pela dica.

Pedrita disse...

é fato que as crianças acabam achando normal o que vivem entre quatro paredes, que toda família é assim. só realmente em contato com outros e com o amadurecimento que conseguem ver se teve fanatismo, que violência é errado. a autora é muito inteligente como coloca, na voz de uma jovem que só qd teve contato mais próximo com a tia começou a questionar os absurdos do pai. tb quero ler outros. o sol amarelo tem um filme nigeriano. hibisco é exatamente essa foto da capa e a flor da casa da minha avó, tinha bastante hibisco no brasil, já foi moda, hj quase sumiu dos jardins. e pra mim papoula é papoula. mas papoula é uma flor rara no brasil. imagino que se tiver algumas deva ser cultivada. não sei se sobrevive bem em país tropical.